segunda-feira, 22 de abril de 2024

ATIVIDADE SOBRE O GÊNERO TEXTUAL HORÓSCOPO

 

ATIVIDADE DE GÊNERO TEXTUAL – HORÓSCOPO

PROFESSORA SUZIANE BRASIL

Blog: https://decifrandotextosecontextos.blogspot.com



horóscopo é uma espécie de diagrama que define as posições relativas dos planetas e dos signos zodiacais num determinado dia específico, geralmente definido como o do nascimento de uma pessoa. A partir desse diagrama, então, os astrólogos tentam definir o caráter e a personalidade da pessoa, bem como prever fatos importantes em sua vida. Nesse sentido, o termo horóscopo é similar ao de um mapa astrológico.

No uso comum, "horóscopo" frequentemente se refere à interpretação de astrólogos, geralmente baseados em um sistema solar; a partir da posição do Sol no momento do nascimento, ou no significado do calendário de um evento, como na astrologia chinesa. Em particular, muitos jornais e revistas trazem colunas preditivas, escritas em prosa que podem ser escritas mais para aumentar o público do que amarradas diretamente ao Sol ou a outros aspectos do sistema solar, supostamente baseadas em influências celestes em relação ao zodíaco, a colocação do Sol no mês de nascimento, cúspide (2 dias antes ou depois de qualquer sinal particular, uma sobreposição), ou decantar (o mês dividido em 3 períodos de dez dias) do mês de nascimento da pessoa, identificando o indivíduo ou "signo" baseado em zodíaco tropical.

Nenhum estudo científico mostrou suporte para a precisão dos horóscopos, e os métodos usados para fazer interpretações são pseudocientíficos. Na moderna estrutura científica, não existe interação conhecida que possa ser responsável pela transmissão da suposta influência entre uma pessoa e a posição das estrelas no céu no momento do nascimento.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hor%C3%B3scopo

 01. Para fazer as previsões astrológicas, os astrólogos levam em consideração

A) a posição da lua no dia do nascimento do indivíduo.

B) a posição do sol no dia do nascimento do indivíduo.

C) a posição das estrelas em relação à estrela mãe, que é o sol.

D) o dia, o mês e o ano do nascimento, além da árvore genealógica.


02. As tipologias textuais são textos que possuem estrutura fixa, algumas características linguísticas específicas e objetivos bem definidos, como: contar uma história, descrever uma paisagem, apresentar uma ideia, ensinar algo, por exemplo. Essas estruturas e objetivos se classificam em cinco tipos: narração, descrição, exposição, argumentação e injunção. A partir dessa explicação e de seus conhecimentos sobre esse conteúdo, analise o trecho e indique a tipologia predominante. 

horóscopo é uma espécie de diagrama que define as posições relativas dos planetas e dos signos zodiacais num determinado dia específico, geralmente definido como o do nascimento de uma pessoa”.


A) narrativa, porque conta história.

B) injuntiva, porque transmite comandos.

C) argumentativa, porque defende um ponto de vista.

D) expositiva, porque fornece uma informação/explicação.


03. O termo em destaque no período “... e os métodos usados para fazer interpretações são pseudocientíficos” quer dizer que os métodos

 A) apresentam credibilidade científica.

B) dependem de inspiração astrológica.

C) representam a fé nos astros do sistema solar.

D) se baseiam em uma ciência equivocada e deturpada.


04. Apesar do texto explicar o que seriam os horóscopos, percebem-se, em alguns momentos, indícios que demonstram a opinião de quem escreve em relação a essas características e previsões astrológicas. Retire do texto palavras, expressões ou frases que marcam posicionamento do autor sobre os horóscopos.

 

 

  

05. Qual é a sua opinião sobre os horóscopos?

 

 

 




06. Com a seguinte frase “É uma boa hora de dar um geral nas suas rotinas...”, pretende-se dizer às pessoas do signo de leão que

A) elas precisam avaliar as suas atividades diárias.

B) elas precisam se conectar com o universo todos os dias.

C) elas precisam aproveitar as oportunidades que vão surgir.

D) elas precisam esquecer mágoas passadas antes que seja tarde.

 

07. Em “fortaleça a conexão com sua casa e renove os laços com a galera...”, os verbos em destaque encontram-se em um tempo verbal que é muito comum em textos que compõem o gênero horóscopo e outros gêneros injuntivos, como manuais de instrução, por exemplo. Esse tempo verbal é classificado como

A) presente do modo indicativo.

B) afirmativo do modo imperativo.

C) futuro do presente do modo indicativo.

D) pretérito imperfeito do modo subjuntivo.

 

08. “O céu desta semana manda aquele lembrete: dê um trato na vida privada...”. Se no lugar dos dois pontos, fôssemos usar um conectivo para ligar as duas orações, como esse período seria escrito da forma mais adequada possível?

A) “O céu desta semana manda aquele lembrete para dar um trato na vida privada...”.

B) “O céu desta semana manda aquele lembrete, pois dê um trato na vida privada...”.

C) “O céu desta semana manda aquele lembrete, mas dê um trato na vida privada...”.

D) “O céu desta semana manda aquele lembrete de como dar um trato na vida privada...”.




09. Na fase “...você pode precisar de um gás a mais para fazer acontecer...”, a expressão em destaque foi empregada no

A) no sentido irônico.

B) sentido denotativo.

C) sentido conotativo.

D) no sentido pejorativo.

 

10. Em “Aproveite para dar uma parada e olhada com atenção nos seus objetivos...”, o verbo em destaque encontra-se em um tempo verbal que é muito comum em textos que compõem o gênero horóscopo, pois visa

A) dar uma ordem que deve ser obedecida.

B) dar um conselho sobre determinada situação.

C) fornecer instruções sobre o uso de ferramentas.

D) indicar o passo a passo para um procedimento.

 

11. Ao dizer “...você está passando por mudanças pessoais que pedem um tempinho...”, entende-se que o uso pronome “você”, interagindo com o interlocutor, caracteriza um tipo de função da linguagem denominado

A) metalinguística.

B) referencial.

C) conativa.

D) emotiva.

 

12. Segundo a astrologia, o planeta Mercúrio tem a ver com comunicação e sua retrogradação indica que não é o momento de tomar iniciativas que estejam relacionadas ao ato de se comunicar, como, por exemplo, fechar acordos, contratos ou qualquer coisa assinada ou falada. A partir dessa explicação, pode-se depreender que a palavra retrógrado, citada no horóscopo, representa

A) um momento de decisões importantes.

B) uma situação inusitada que pode mudar sua vida.

C) uma fase de complicações amorosas e trabalhistas.

D) um momento de ter cautela com as tomadas de decisões.

 

 


GABARITO:

 

01. B

02. D

03. D

04. “...que podem ser escritas mais para aumentar o público do que amarradas diretamente ao Sol...”

      “...supostamente baseadas em influências...”

      Nenhum estudo científico mostrou suporte para a precisão dos horóscopos...”

      ...os métodos usados para fazer interpretações são pseudocientíficos

      “...não existe interação conhecida que possa ser responsável pela transmissão da suposta influência entre uma pessoa...”

 

05. Resposta pessoal

06. A

07. B

08. A

09. C

10. B

11. C

12. D


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

DESAFIO - MODALIDADE FORMAL DA LÍNGUA PORTUGUESA

 





PROPOSTA DE REDAÇÃO ESTILO ENEM Nº 72 - CIGARROS ELETRÔNICOS

 

PROPOSTA DE REDAÇÃO

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “OS RISCOS DO USO DE CIGARROS ELETRÔNICOS PARA A SAÚDE DA POPULAÇÃO”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

 

TEXTOS MOTIVADORES

TEXTO 1

Estudo do INCA alerta sobre risco de cigarros eletrônicos

Pesquisa aponta que pessoas que usam dispositivo para fumar têm mais chances de iniciar uso de cigarro convencional

Estudo do Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta para os riscos de iniciar o consumo de cigarros a partir do uso de cigarros eletrônicos. O artigo, feito por pesquisadores da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA, foi aceito para publicação na revista Ciência & Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva.

O uso de cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro, segundo a pesquisa. “Nossos resultados mostram que o cigarro eletrônico aumenta a chance de iniciação do uso do cigarro convencional entre aqueles que nunca fumaram, contribuindo para a desaceleração da queda no número de fumantes no Brasil”, destaca a coordenadora de Prevenção e Vigilância do INCA, a médica epidemiologista Liz Almeida. (...)

Os cigarros eletrônicos expõem o organismo a uma variedade de elementos químicos gerados de formas diferentes. Uma pelo próprio dispositivo (nanopartículas de metal). A segunda tem relação direta com o processo de aquecimento ou vaporização, já que alguns produtos contidos no vapor de cigarros eletrônicos incluem carcinógenos conhecidos e substâncias citotóxicas, potencialmente causadoras de doenças pulmonares e cardiovasculares. (...)

Disponível em https://www.inca.gov.br/imprensa/estudo-do-inca-alerta-sobre-risco-de-cigarros-eletronicos. Acesso em 21/03/2022.

 TEXTO 2

Uso de cigarro eletrônico pode causar lesões agudas no pulmão

Também conhecido como vape, o dispositivo libera substâncias causadoras de doenças pulmonares e cardiovasculares

Alardeados como uma alternativa ao tabaco, os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vape, são prejudiciais à saúde e podem causar lesões agudas no pulmão, segundo o pneumologista Flávio Arbex, médico do ambulatório de doenças cardiorrespiratórias da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

“A redução do cigarro comum por meio do eletrônico foi muito abordada pela própria indústria do tabaco, mas não vemos isso com bons olhos. Já existem relatos na literatura médica de pessoas jovens que ficaram com danos pulmonares agudos por causa do uso do cigarro eletrônico, inclusive com necessidade de transplante pulmonar”, afirma o especialista.

Ainda que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proíba a comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos desde 2009 no Brasil, em uma rápida busca na internet é possível encontrar uma variedade do produto à venda ou mesmo vídeos ensinando como usá-lo.

Um dos atrativos do vape, o uso das essências também é um risco à saúde. O Inca (Instituto Nacional de Câncer) alerta para os elementos químicos liberados durante os processos de aquecimento e vaporização das essências, que podem conter carcinógenos conhecidos e substâncias citotóxicas causadoras de doenças pulmonares e cardiovasculares, além do próprio dispositivo, que libera nanopartículas de metal. (...)

Disponível em https://noticias.r7.com/saude/uso-de-cigarro-eletronico-pode-causar-lesoes-agudas-no-pulmao-30102021. Acesso em 21/03/2022.

 

TEXTO 3

Após vício em cigarro eletrônico, uso bombinha para recuperar

"Conheci os cigarros eletrônicos em 2020, em uma festa. Era 'moda' na época e todo mundo usava. Eu era contra, inclusive, mas decidi provar uma vez. Desde então, já curti, e não parei mais. Sentia vontade de fumar sempre. Comprava os que são descartáveis para levar em festas aos finais de semana. Antes disso, nunca tinha fumado o cigarro tradicional, só o eletrônico mesmo. Depois comprei um Juul, que é um modelo muito mais fácil de usar. Ele vem com um carregador e você pode levá-lo para todos os lugares. Então, eu usava todos os dias: assim que acordava até a hora de dormir. Não passava um dia sequer sem fumar. Se não usava, já ficava estressada e em abstinência. (...)

Descobri o problema esse ano. Na verdade, já estava com alguns efeitos colaterais desde 2021, que era fadiga pulmonar, aumento da minha ansiedade —já tenho diagnóstico—, problemas para fazer tarefas diárias. Ficava muito cansada!

Quando ia à academia, por exemplo, sentia tontura e ficava com a pressão baixa facilmente. Como moro em Maceió, que tem praia, corria na orla e praticava muay thai, mas não conseguia mais. Também problemas na garganta sempre. Uma vez, no ano passado, tive uma amigdalite muito forte. Precisei tomar injeção, pois minha garganta 'fechou'. A médica disse que tudo poderia ter ocorrido pelo uso do vape.

O meu pulmão estava cheio de água, então, não conseguia expandi-lo da maneira correta para completar uma respiração, segundo a médica. Percebi que a coisa ficou mais séria, neste ano, quando fui na minha médica otorrinolaringologista e ela me passou bombinhas de 'asma' para recuperar 100% meu pulmão”. (...) 

Disponível em em https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/02/14/apos-vicio-em-cigarro-eletronico-uso-bombinha-de-asma-para-tratar-pulmao.htm?cmpid=copiaecola

TEXTO 4


https://www.mpce.mp.br/institucional/centros-de-apoio-operacionais/caosaude/o-caosaude/acoes-e-projetos/campanha-nem-um-nem-outro-cigarros-eletronicos/



domingo, 21 de maio de 2023


VESTIBULAR DA UECE 2ª FASE - 2023.2

PROPOSTA DE REDAÇÃO


Prezado(a) Candidato(a),

segundo a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população com mais de 60 anos deverá ultrapassar a marca de 64 milhões de pessoas em 2050, isto significa que este estrato populacional deverá chegar próximo a 30% da população do país. Essa realidade, se por um lado indica desenvolvimento, por outro mostra os desafios pelos quais atravessa e atravessará o país em setores como a saúde, a educação e a previdência. Nesta prova de redação, você escreverá sobre a implantação de políticas públicas para o envelhecimento da população brasileira, tomando por base seus conhecimentos sobre a temática, bem como os dois textos motivadores. Escolha UMA das propostas a seguir e componha seu texto.

Proposta 1:

Imagine a seguinte situação: você participa do jornal de sua escola e foi convidado para escrever um artigo de opinião, sobre “A urgência de políticas públicas para o envelhecimento da população brasileira”. O artigo de opinião deve apresentar fatos e argumentos sobre as políticas públicas necessárias para o amparo aos idosos no país. Redija seu texto de acordo com a norma culta da escrita de língua portuguesa.

Proposta 2:

A coordenação do Curso de Medicina, da Universidade Estadual do Ceará, está organizando a coletânea “Vivências com o idoso no Ceará: memórias com nossos avós”, como parte das comemorações dos seus 20 anos de fundação, e você, estudante da educação básica, vai concorrer com outros estudantes, para publicar seu texto. Para tal, você deve escrever uma história, em que você narra um momento muito feliz com seus avós. Atente para o uso da norma culta da escrita de língua portuguesa.

TEXTO I

Um país mais velho: o Brasil está preparado?

Era para ser o primeiro de uma sequência de dez anos em que se promoveria um conjunto de ações para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas. Mas a ‘Década do envelhecimento saudável’, estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o período de 2021 a 2030, começou com uma pandemia que atingiu em cheio as populações mais velhas e matou milhões de idosos em todo o mundo – no Brasil, pesquisa da Fiocruz mostrou que, em 2020, quando ainda não havia vacina disponível no país, 75% dos óbitos por Covid-19 foram de pessoas acima de 60 anos. Mais do que uma “ironia do destino”, como caracteriza Yeda Duarte, professora da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do estudo Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (Sabe) no Brasil, a tragédia deve funcionar como um alerta. “Eu acho que a pandemia revelou as mazelas que a gente sempre teve e não queria enxergar. Porque a questão do envelhecimento como demanda de melhora de qualidade do acesso e criação de serviços específicos já está posta há décadas, só que ninguém quer ouvir”, resume Karla Giacomin, médica geriatra e presidente da Frente Nacional de Fortalecimento às Instituições de Longa Permanência, criada no contexto da pandemia.

De fato, já faz algum tempo que o envelhecimento da população brasileira se tornou um desafio para as políticas sociais e, particularmente, de saúde: afinal, esse é um dos muitos desdobramentos da transição demográfica, e consequente transição epidemiológica, que começou a ser percebida por aqui nos anos 1970 e se intensificou no final do século 20. De um país onde nascia muita gente, em que as pessoas morriam relativamente cedo, incluindo um grande número de crianças que sequer completavam um ano, o Brasil vem progressivamente experimentando a queda da taxa de natalidade, aumento da expectativa de vida e redução significativa da mortalidade infantil. As consequências dessas mudanças são várias e uma delas diz respeito ao desafio de garantir qualidade de vida para os cerca de 31 milhões de idosos que o país tem hoje, o equivalente a mais de 15% da população – para se ter uma ideia dessa transformação, em 2010 essa proporção era menos da metade, 7,3%.

A notícia é boa, mas não custa lembrar que, apesar de ser um indicador de desenvolvimento, esse processo acontece de forma muito desigual em todo o país. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2019, a expectativa de vida no Brasil atingiu 76,6 anos, mas a média da população dos estados mais pobres chega a ser 8,5 anos a menos do que nas regiões mais ricas. Em Santa Catarina, que ocupa o topo da longevidade, a expectativa de vida era de 79,9 anos, enquanto no Maranhão, que fica na outra ponta do ranking, ela cai para 71,4 anos. De acordo com Giacomin, esse abismo pode ser ainda maior no interior de uma mesma cidade: segundo ela, em Belo Horizonte (MG) há diferença de 12 anos na expectativa de vida entre a população que mora na regional periférica e na regional centro-sul. Em São Paulo, diz, entre a periferia e a zona nobre, essa distância pode chegar a duas décadas. E tudo isso sem contar elementos como cor e orientação sexual, que também afetam essas estatísticas. “Parte da população masculina negra jovem é privada da chance de envelhecer porque é dizimada pela violência urbana”, exemplifica.

Embora seja mais facilmente medida pela análise da expectativa de vida, essa mesma desigualdade social está presente na velhice única, há velhices diferentes. E a gente sabe hoje que o código de endereçamento postal [CEP] onde uma pessoa vive determina muito mais o envelhecimento dela do que a própria bagagem genética”, explica Giacomin, que completa: “É muito importante que as pessoas reconheçam que envelhecer é o resultado do acesso ou da falta de acesso a direitos fundamentais”.

Disponível em: https://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/um[1]pais-mais-velho-o-brasil-esta-preparado. Texto adaptado.

TEXTO II

Becos da memória

Vó Rita era boa, gostava muito dela e de todos nós.

Eu me lembro de que ela vivia entre o esconder e o aparecer atrás do portão. Era um portão velho de madeira, entre o barraco e o barranco, com algumas tábuas já soltas, e que abria para um beco escuro. Era um ambiente sempre escuro, até nos dias de maior sol. Para mim, para muitos de nós, crianças e adultos, ela era um mistério, menos para Vó Rita. Vó Rita era a única que a conhecia toda. Vó Rita dormia embolada com ela. Nunca consegui ver plenamente o rosto dela. Ás vezes, adivinhava a metade de sua face. Ficava na espreita, colocava a lata na fila da água ou punha a borracha na tina e permanecia quieta, como quem não quisesse nada. Ela aparecia para olhar o mundo. Ver as pessoas, escutar as vozes. E eu, de olhos abertos, pulava em cima (só os meus olhos).

Eu não atinava com o porquê da necessidade, do querer dela em ver o mundo ali à sua volta. Tudo era tão sem graça. Grandes mundos!... Uma bitaquinha que vendia pão, cigarro, cachaça e pedaços de rapadura. A bitaquinha era do filho dela. Ninguém gostava de comprar nada ali, o movimento era raro. Vendia também sabão, água sanitária e anil. E, fora a cachaça, estes eram os produtos que mais saíam.

Em frente da casa em que ela morava com Vó Rita, ficava uma torneira pública. A “torneira de cima”, pois no outro extremo a favela havia a “torneira de baixo”. Tinha, ainda, o “torneirão” e outras torneiras em pontos diversos. A “torneira de cima”, em relação à “torneira de baixo”, era melhor. Fornecia mais água e podíamos buscar ou lavar roupa quase o dia todo. Era possível se fazer ali o serviço mais rápido.

Hoje, a recordação daquele mundo me traz lágrimas aos olhos. Como éramos pobres! Miseráveis talvez! Como a vida acontecia simples e como tudo era e é complicado!

Havia as doces figuras tenebrosas. E havia o doce amor de Vó Rita. Quando eu soube, outro dia, já grande, já depois de tanto tempo, que Vó Rita dormia embolada com ela, foi que me voltou este desejo dolorido de escrever.

Escrevo como uma homenagem póstuma à Vó Rita, que dormia embolada com ela, a ela que nunca consegui ver plenamente, aos bêbados, aos malandros, às crianças que habitam os becos de minha memória.

EVARISTO, Conceição. Becos da memória, 2. ed., p. 27-30.